Após um período de domínio de aproximadamente 50 anos, a família Sarney sofreu uma derrota histórica neste domingo (5). Pela primeira vez na história do Marinhão, um candidato de oposição ao grupo venceu as eleições, em primeiro turno e sem auxílio da máquina governamental.
Com 100% das urnas apuradas no Estado, Flávio Dino foi eleito em disputa quase plebiscitária contra Edison Lobão Filho (PMDB), filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB). Dino teve 63,52% dos votos válidos contra 33,69% de Lobão Filho. Em números consolidados, Dino obteve quase o dobro da votação do candidato do clã Sarney.
Agora, o grupo Sarney já trabalha com a possibilidade de reverter a derrota ou no Tribunal Regional Eleitoral (TRE) ou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além disso, a própria governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), afirma que pode voltar a disputar um cargo eletivo em 2016. Nos bastidores, fala-se que ela pretende se candidatar à prefeita de São Luís, capital do Estado, nas próximas eleições.
“Temos confiança de que hoje se vive uma última página de um ciclo político e a gente vai inaugurar um momento realmente republicano e democrático no Maranhão”, disse Dino durante a votação deste domingo.
As eleições deste ano no Maranhão foram marcadas pelo baixo nível da campanha eleitoral e por uma troca de acusações nunca vistas na história do Estado. Lobão Filho insinuou em seus programas eleitorais que Dino era líder de um grupo criminoso responsável por ataques a ônibus, assaltos a agências bancárias e atos de tráfico de drogas. Nos programas, Lobão Filho também insinuou que Dino iria “implantar o comunismo” no Estado.
A campanha também teve imagens íntimas da esposa de Lobão Filho, a apresentadora de TV Paulinha Lobão, divulgadas em redes sociais que Filho atribuiu à campanha de Dino, apesar do candidato comunista ter condenado a divulgação das imagens. Houve também na reta final da campanha até mesmo a divulgação de um certificado falso do Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão com uma suposta impugnação à candidatura de Dino. Além das acusações contra Dino, Lobão Filho tentou ao máximo se dissociar da família Sarney afirmando que “não representava” o grupo político que atualmente comanda o Estado.
Na reta final da campanha, o grupo Sarney acusou o presidente do Tribunal de Contas do Estado, Edmar Cutrim, ex-aliado do clã, de coagir prefeitos a votarem em Dino. Lobão Filho chegou a ingressar com uma ação judicial pedindo a anulação prévia das eleições, mas teve sua ação negada. A própria governadora Roseana Sarney (PMDB) foi responsável por gravar uma conversa entre Cutrim e aliados do candidato comunista em que ele mostrava seu apoio político ao Dino.
Integrantes da campanha de Dino afirmaram que a conversa de Cutrim e aliados de Dino eram posicionamentos como cidadão e não como presidente do TCE.
A vitória de Flávio Dino começou a ser construída ainda em 2011, quando ele iniciou um plano para tentar vencer as eleições. A estratégia dinista foi calcada em algumas ações como o convencimento de prefeitos aliados ao grupo Sarney a abandonarem o clã e a promoção de palestras públicas, no interior do Maranhão, criticando a família Sarney.
Além disso, também colaborou para a derrota do grupo Sarney a própria escolha do nome de Lobão Filho, criticada internamente por políticos ligados ao clã. A imposição da candidatura de Lobão Filho foi uma ideia da governadora Roseana Sarney, mas a própria filha do ex-presidente Sarney não prestou a assistência esperada por seus aliados.
Houve também uma debandada de aliados históricos dos Sarneys desde o ano passado. Na lista dos políticos que abandonaram o grupo Sarney, estão deputados estaduais e prefeitos como o da cidade de São José de Ribamar, Gil Cutrim. A cidade de Ribamar fica na região metropolitana de São Luís, um dos maiores colégios eleitorais e é histórico do clã Sarney.
Aos 46 anos, Flávio Dino é o primeiro governador eleito pelo PCdoB (Partido Comunista do Brasil). Advogado e professor da UFMA (Universidade Federal do Maranhão), Dino foi juiz federal, deputado federal, presidiu a Associação Nacional de Juízes Federais (Ajufe) e foi secretário-geral do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Até o início do ano, presidia a Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) e se desincompatibilizou do cargo para disputar as eleições no Maranhão.